ROBERTA NAMOUR
Ganhamos relevância localmente e isso chamou a atenção da matriz"
RODRIGO ABREU, PRESIDENTE DA CISCO NO BRASIL, NA SALA DE TELEPRESENÇA DA COMPANHIA
O Brasil voltou ao centro das atenções da Cisco. E, desta vez, o motivo não tem nada a ver com o escândalo ocorrido em 2007. Na época, a companhia foi alvo de uma megaoperação da Polícia Federal, por suspeita de sonegação fiscal. Pedro Ripper, então presidente da empresa no Brasil, chegou a ser preso. Aliás, trata-se de um assunto que o novo presidente, Rodrigo Abreu, recusa-se a comentar. As luzes sobre a Cisco do Brasil se devem ao fato de que ela entrou na lista de prioridades pessoais de John Chambers, CEO da companhia. Isso porque a filial brasileira foi uma das mais aplicadas discípulas de uma filosofia desenvolvida por Chambers. O executivo promoveu uma profunda mudança cultural na companhia, implantou um sistema de gestão participativa e poucas subsidiárias absorveram a novidade com tanta rapidez quanto a brasileira. "Nossa estratégia fez com que ganhássemos mais relevância localmente e isso chamou as atenções da matriz", conta Abreu. No ano fiscal de 2008, o Brasil obteve o maior crescimento dentre todas as filias da Cisco no mundo - o faturamento aumentou em 48%. Trata-se de uma nova Cisco. A empresa democratizou seu poder - antes concentrado em um seleto grupo de dez executivos. O objetivo foi trazer ao mercado mais produtos em menos tempo. Esse modelo rendeu frutos que já podem ser encontrados no mercado. (leia o quadro na página 42) "Você não terá de depender do CEO nunca mais", disse Chambers. Na visão do professor de administração da FEA Hélio Teixeira, no entanto, o sistema não deixa de ser hierarquizado. "Apenas abre espaço para uma maior participação", diz.
A origem dessa reviravolta na companhia encontra-se no estouro da bolha da internet em 2001. Um ano antes, a Cisco havia conquistado uma proeza até então impensável: superou a Microsoft e alcançou o posto de empresa mais valiosa do mundo - seu valor de mercado atingiu US$ 579,2 bilhões, US$ 1 bilhão a mais que a Microsoft. Seu momento de glória, no entanto, durou pouco. Meses depois, com o estouro da bolha, enfrentou a pior crise de sua história, vendo suas ações despencarem para US$ 10 - chegaram a valer mais de US$ 77 no ano anterior. Na época, a empresa vendia apenas roteadores de grande porte para o segmento corporativo. Hoje, quase oito anos depois e num cenário de recessão mundial, a companhia possui US$ 29 bilhões em caixa. A grande virada, de acordo com Chambers, foi possível graças a duas lições aprendidas no passado: nunca mais depender de uma linha reduzida de produtos e saber socializar o poder. Uma grande mudança para uma empresa comandada por um republicano conservador assumido. "Ele sempre foi uma pessoa comando - controle", afirma Abreu. "Mas sua capacidade visionária fez com que pudesse preparar a companhia para uma transição antes do resto do mercado." Atualmente, ao menos 500 executivos espalhados pelo mundo têm autonomia para votar a aprovação de projetos. "Esse é um movimento natural para acompanhar a pressão da globalização, da sede por inovação. Para sobressair diante da concorrência, uma gestão mais participativa, com mais cabeças pensando, se torna fundamental", analisa Teixeira, da FEA. O professor explica que este modelo foi criado pelos japoneses em 1970 e ganhou o mundo em 1990. "No setor automobilístico, um dos pontos-chave do sucesso da Toyota foi a maior participação dos funcionários na gestão", lembra. Na Cisco, a estratégia foi facilitada pelo uso das ferramentas de comunicação integrada - como videoconferência holográfica - criada pela companhia. Desde o início do ano, o presidente da Cisco no Brasil já participou de três telepresenças com Chambers. Além da tecnologia fabricada pela empresa, a web 2.0 se tornou uma peça central nesse modelo de gestão participativa. Hoje, praticamente todos os principais executivos da companhia possuem um blog ou fazem parte de alguma rede social. A medida facilita a comunicação entre os tomadores de decisões e permite que todos os seus mais de 63 mil funcionários contribuam com ideias para o desenvolvimento de produtos.
"Projetos que antes demoravam seis meses para serem formulados, agora levam de 15 minutos a uma semana", afirma Chambers. No ano fiscal de 2008, a empresa aumentou dez vezes o número de novos projetos. Em contrapartida, as despesas operacionais diminuíram de 38% - índice da época do boom da tecnologia - para 35% e 36% atualmente. A presença da Cisco na internet também aproxima o consumidor final, uma quebra de paradigma em se tratando de uma empresa de sistemas e não de equipamentos eletrônicos. A Cisco usa a rede para ensinar as pessoas a utilizar os produtos que vende.
No Brasil, as novas faces da companhia têm um alvo certeiro. "Hoje a Cisco tem tudo para ajudar o Brasil a atingir seu desenvolvimento econômico", diz Rodrigo Abreu. "E essa é minha missão pessoal."
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