por Vitor Cavalcanti InformationWeek Brasil
25/03/2009
Poucas empresas têm processos definidos de preparação de executivos para ocupar cargos de chefia
É muito comum utilizar datas como a virada do ano ou o dia do aniversário para estabelecer diretrizes e objetivos para a vida pessoal e profissional. Alguns listam em uma folha, outros montam planilhas no computador e há ainda aqueles que apenas mentalizam e saem em busca do eldorado. Diferente das metas pessoais, que muitas vezes (e infelizmente) são deixadas de lado para serem retomadas apenas em momentos oportunos, o planejamento da carreira profissional, independentemente de qualquer data, requer comprometimento contínuo. É preciso ter paciência para galgar cada degrau e respeitar o tempo necessário que normalmente esta escalada requer. Um crescimento meteórico pode vir acompanhado de uma queda fatal.
Se ainda assim você pensa que basta planejar metas e ponto final, há outras lições ensinadas pelos executivos entrevistados por InformationWeek Brasil e endossadas pela especialista no assunto Aline Zimermann Franco, sócia da consultoria Fesa. Por exemplo, antes de optar pela mudança de corporação, Aline destaca que o profissional tem de conhecer o negócio, avaliar o momento da empresa e como está posicionada. "Tudo exige uma minuciosa programação."
Paulo Bonucci, presidente da Unisys; Ítalo Flammia, que acaba de assumir a posição de CIO na Sodexo, e Mauro Negrete, coordenador de cursos de TI e de gestão de negócios no IBTA, professor do IBMEC e diretor de operações da Gravames.com, têm em comum características fundamentais para o sucesso profissional: são apaixonados pelo que fazem, construíram uma história de sucesso desde o início da carreira e trabalham duro.
De forma bem descontraída, o atarefado presidente da Unisys no Brasil, afirma que, desde cedo, almejou posições de destaque e colocou como meta pessoal alcançar um cargo de gerência aos 30 anos. "Com 28 cheguei lá. Fui colocando metas e tentando me desenvolver para progredir e atingir os meus objetivos", relembra Bonucci, que nunca fez um diário ou planejamento formal.
Claro que nada funcionou apenas com o poder da mente. Bonucci iniciou a carreira na Andersen Consulting (hoje Accenture) como trainee em 1984. Para sua surpresa, a companhia estimulava o desenvolvimento profissional por meio de um planejamento. "Comunicavam as etapas, cursos necessários e colocam como o Olimpo chegar à posição de ‘partner". Isto me estimulou a passar por cada etapa de forma sólida, construindo uma carreira de conteúdo e resultados", resume.
Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, João Baptista Brandão, reconhece que esta não é uma prática comum nas empresas. Apenas as mais maduras tendem a fornecer esse tipo de estrutura aos profissionais. "Seria correspondente ao sujeito que tenta evitar que sua companheira veja ou conheça outros homens, eventualmente mais interessantes, para não correr o risco de ser passado para trás", contextualiza, fazendo referência ao que normalmente ocorre nas companhias. (Leia artigo do professor Brandão)
Além do eventual estímulo dentro da corporação, Brandão ensina que o profissional precisa estabelecer alguns pontos para o desenvolvimento de sua carreira, como verificar as habilidades que têm de ser melhoradas, avaliar como estão seus relacionamentos (inteligência interpessoal) e também o que é necessário desenvolver em termos de conhecimento para hoje e amanhã.
Aos 48 anos, sendo 25 deles dedicados à profissão, Bonucci reconhece que há uma pitada de sorte nas estradas do mundo corporativo. O executivo, que hoje pensa no longo prazo e já não planeja o passo-a-passo como antes, reforça a importância de vivenciar todas as etapas da carreira, alertando que ascensões meteóricas podem ter fins trágicos. "O planejamento é muito útil neste sentido. Me preparei para melhorar meu conhecimento nas áreas jurídica e de finanças. É preciso ter muita paciência também. As empresas cometem injustiças, mas algumas reparam", ensina. Até assumir a presidência da Unisys, em 2005, Bonucci atuava como diretor para América Latina da empresa. Ele conta que, antes de aceitar o cargo, avaliou as oportunidades e os desafios que o aguardavam. "Confesso que acertei na carreira; o desempenho nos últimos anos foi super bom e minha missão foi cumprida", comemora.
Quando começa o planejamento
Avaliar o mercado, as oportunidades que surgem e ainda saber optar por aquela que mais agregará ao seu futuro não é tarefa fácil. Tanto que o ato de planejar a carreira nem sempre faz parte dos primeiros passos do profissional. Isto requer tino e um pouco de experiência. Tal avaliação é referendada por Mauro Negrete. "Quando você está na universidade, não sabe o que quer da vida. No meio (do curso), você pode gostar muito ou parar."
Ele fala por experiência própria. Negrete ingressou na faculdade aos 22 anos e só saiu aos 27. Tentou estudar física, mas desistiu. Daí, cursou administração e fez como opção de carreira buscar a TI aplicada ao negócio. "Nunca estabeleci metas, mas sou muito racional e intuitivo. Como tenho claro aonde quero chegar, tomo minhas decisões", explica, confessando que não formalizou seus planos logo no início. "Meu planejamento começou a acontecer com cinco anos de carreira em TI. Fiz administração, porque senti que, para trabalhar com tecnologia, precisava entender de negócios", relembra o profissional, que por cinco anos atuou na Eucatex, onde alcançou seu primeiro cargo de coordenador.
O executivo acredita que trabalhar e estudar ao mesmo tempo possibilita uma visão melhor de direcionamento de carreira. Foi assim que desistiu da física. "Percebi que não teria perspectiva", assume. Negrete, que já foi CIO da Cotia Trading e deixou a empresa para se dedicar a projetos de consultoria, avalia que, quanto maior a vivência, mais bem-estruturado será o processo.
Embora não seja de formalizar seus planos ou estabelecer metas, Negrete acredita que as pessoas devem sempre ter uma visão de futuro, mas reconhece que há uma dificuldade geral para isto. "Se você tem, erra menos e, quando erra, percebe qual foi o erro. As pessoas têm dificuldade para montar uma visão de longo prazo e com isso [o estabelecimento da visão] fica mais fácil determinar investimentos em sua carreira", aconselha. Assim como Bonucci, Negrete não vê benefícios nas expectativas de curto prazo, o que é bastante comum, sobretudo, quando está em jogo um salário mais elevado. Além disto, ele reforça a necessidade de se construir uma carreira sólida e com bom histórico, de forma que isto reflita positivamente no futuro.
Ter os objetivos traçados, entretanto, não significa que você terá de ficar estagnado neles. Negrete sempre quis (e se preparou para) uma vida acadêmica, mas, quando estava com esta outra carreira em pleno vapor, recebeu uma proposta para voltar para a vida executiva. "É um projeto que me atraiu profissionalmente e vai me proporcionar novos conhecimentos. Isto aumenta meu valor como consultor e professor", analisa, lembrando que esse tipo de situação é bastante comum ocorrer e requer atenção especial.
Abandonando o barco
A construção de uma carreira dificilmente acontece em apenas uma empresa e talvez a parte mais complicada no percurso seja a troca de trabalho, especialmente quando se ocupa uma posição de destaque, como CIO ou CEO. Isto porque, ao deixar uma corporação, projetos podem ficar pelo caminho e o ambiente deixado não necessariamente será sadio. "A negociação da demissão tem de ser bem trabalhada e factível para os dois lados", reforça Aline Zimermann Franco, sócia da Fesa. Ítalo Flammia deixou a Natura depois de 12 anos de casa e assumiu, em janeiro último, o cargo de CIO da Sodexo. O profissional de 20 anos de carreira contou que, antes de anunciar de fato que deixaria a empresa de cosméticos, passou quatro meses avaliando a situação para estar seguro de sua decisão. Até a família esteve envolvida no processo. "Depois da decisão, conversei com três headhunters, com o objetivo de avaliar o mercado para uma pessoa com o meu currículo", lembra. Ele reforça que isto não teve nada a ver com a busca de oportunidades, mas foi uma forma de autoavaliação.
A partir da decisão tomada e comunicada à empresa, o trabalho se tornou mais árduo. O profissional fez um verdadeiro esquema de comunicação para o que mercado soubesse que ele estava deixando a companhia onde, por 12 anos, teve uma posição de destaque. Busca por aconselhamento profissional em consultorias também fez parte do processo. "Tive reuniões com consultores e comecei a aperfeiçoar o meu plano. Estes momentos de mudanças são importantes para reflexão", reconhece. Além da contratação de ajuda, Flammia também abordou headhunters, enviou cartas, e-mails, ligou e insistiu em encontros, mesmo quando não havia vagas com objetivo de fazer relacionamento com o mercado. "Fiz 60 entrevistas em seis meses", contabiliza.
A atitude de Flammia vai ao encontro dos aconselhamentos de Aline, da Fesa, que ressalta a importância do networking, principalmente quando está em jogo cargos de alto escalão. "Conversei com CIOs, consultores, executivos e outros colegas que tinham negócios a ver com o meu", informa o atual líder de TI da Sodexo. O longo processo pelo qual Flammia passou antes de aceitar a proposta da empresa especializada em soluções de benefícios e serviços ao trabalhador envolveu ainda listagem das empresas onde gostaria de trabalhar para focar as investidas, construção de uma planilha para organizar os contatos e registrar os encontros, estabelecer prazos, principalmente, em relação ao tempo que você pode se manter sem um emprego e avaliação das propostas.
"Em média, um executivo demora de seis a oito meses para se recolocar, não pode desanimar. Depois de contratado, é preciso agradecer a todos que contribuíram com você durante o processo, sobretudo os que participaram ativamente. No novo emprego, tenha o controle da ação e estabeleça objetivos", ensina o profissional de 45 anos, alertando que é preciso estar preparado para o recomeço, já que os ciclos profissionais estão cada vez mais curtos.
Por onde começar?
Aline Zimermann Franco, sócia da consultoria Fesa, empresa especializada em buscar executivos para grandes corporações, explica que profissionais em início de carreira podem buscar oportunidades pelas vias comuns, ou seja, enviar currículo para o RH e consultorias que trabalhem com cargos técnicos. Já para cargos mais altos, principalmente quando o executivo já tem em mente a empresa para a qual quer trabalhar, o processo é mais complicado. "As estruturas seniores estão montadas, quando tem vaga as empresas olham para dentro ou partem para network e consultoria. O executivo precisa ter contatos ou tentar via consultoria", confirma.
Casa nova?
- Se for um novo setor, aprofunde seu conhecimento sobre ele
- Estude o momento da empresa, como ela está posicionada
- Objetivos e metas precisam estar claros
- Conheça a relação entre os setores internamente
Decidiu levantar voo? Veja o que fazer:
- Avalie bem a saída
- Certifique-se de que não há projetos importantes pela metade
- Negocie bem a demissão para que o processo seja bom para as duas partes
- Durante o processo de saída, não participe de reuniões estratégicas
- Antes de aceitar o novo emprego, tenha certeza que a remuneração e o pacote profissional são o que você realmente quer
- Decisão tomada, não volte atrás
- Honre sua palavra, aceitar contraproposta te coloca em posição complicada
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