Acabo de ler uma matéria relatando a decisão da Philips do Brasil em abolir salas ou mesmo estações de trabalho exclusivas de cada um dos seus colaboradores. Se entendi bem a matéria, nem mesmo os diretores terão sequer sua mesa privativa. Parece algo impensável para os padrões de hoje, mas eu me lembro muito bem quando, no início de carreira, fui trabalhar numa empresa japonesa.
A principal inovação dessa empresa era a ausência de salas individuais, mesmo para os funcionários mais graduados. Ao contrário, todos sentavam em mesas encostadas umas às outras, agrupadas por departamentos, inclusive os diretores. Naquele momento, havia descrença e decepção quanto a esse modelo.
O ruído exagerado desses ambientes, ainda carentes de um bom sistema de telefonia e tendo frequentadores como nós, brasileiros, que adoramos falar alto e compartilhar piadas e brincadeiras, quase deixaram os japoneses loucos. Mas o modelo era definitivo e nos adaptamos na marra.
Existia ainda aquela frustração: todo profissional sonhava com a sua sala, de preferência com nome na porta, símbolo máximo de status que os filmes de Hollywood nos impingiam. Pois é, o tempo passou e, pouco a pouco, as pomposas salas individuais foram cedendo espaço para espaços coletivos, com uma consequente queda de paredes e hoje o padrão já é esse.
A decisão da Philips parece, agora, radical, mas lembremo-nos que já não é de hoje que temos notícia de iniciativas de estações de trabalho compartilhadas, combinadas com home-offices. Sabemos de agências de comunicação americanas que há tempos adotam esse sistema: duplas de criação vão até a agência em dias determinados para coletar briefings e vão trabalhar nas suas casas. Em dias alternados, outras duplas cumprem o mesmo ritual.
Há quem já adote o modelo virtual por completo (sem sequer comparecer ao local de trabalho no dia-a-dia), o que, sem querer ser reacionário, me parece deficiente por não permitir o produtivo olho no olho, o comentário nas entrelinhas e compartilhamento de ideias.
Pelo menos em serviços de marketing, que dependem da troca de informações e ideias. Mas a tendência que parece definitiva é o desapego daquele local de trabalho personalista, com porta-retratos da família e objetos decorativos e pessoais sobre amplas mesas. Com a chegada da internet, esse fenômeno se potencializa.
Já em 2003, o Trendwatching, dedicado ao estudo de tendências (se você ainda não acessa nem é cadastrado para receber os excelentes briefings, recomendo que o faça: trendwatching.com), destacava o que chamou de Online Oxygen, ou seja, internet em todo lugar.
Você, como eu, já deve ter reparado os cafés cheios de executivos solitários (ou mesmo em grupos) com seus note/netbooks trabalhando como se fossem seus escritórios. Diariamente, padarias e cafés se transformam em verdadeiros escritórios regionais reunindo supervisores com promotores que trabalham a maior parte (ou totalmente) nas ruas para o estabelecimento de tarefas ou mesmo entrega de materiais de suporte às suas operações.
Com a popularização da banda larga e a democratização do acesso à web, esse fenômeno tende a se ampliar. Outro dia, participei de uma demonstração do sistema de telepresença. De um lado, três pessoas numa sala padrão, aqui no Brasil. Do outro lado, a imagem em telas de muitas polegadas de outro grupo, disposto numa mesa que parece ser um complemento da nossa, do lado de cá.
Som sem delay, imagem impecável, sem efeitos indesejáveis, além da possibilidade de compartilhar arquivos. Realmente impressiona. Tudo é feito para que as reuniões virtuais se tornem cada vez mais “reais”. Hoje, o sistema ainda é bem caro e só se justifica para empresas com presença pulverizada em muitos países, mas não demorará para tudo isso se tornar mais acessível e conquistar mais adeptos ao mundo virtual.
Já não estranhamos mais em receber cartões onde as únicas informações são um telefone celular e um e-mail. Também não estranharemos em responder que nosso endereço é às vezes em tal lugar, às vezes em outro, ou simplesmente por aí.
Alexis Thuller Pagliarini, no Propaganda e Marketing.
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