sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Projeto do trem-bala prevê transferência de tecnologia

Por Vicente Abate, diretor do comitê Ferroviário do Congresso SAE BRASIL 2009

São Paulo. As ações necessárias para tirar o projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) brasileiro do papel já estão em velocidade compatível com o próprio trem, tanto por parte do governo federal bem como das indústrias nacionais e internacionais envolvidas em sua construção. O governo acaba de divulgar a modelagem econômico-financeira da concessão, que se estenderá por 40 anos.

Os próximos passos, já definidos, indicam o lançamento do edital do leilão de concessão para outubro de 2009, recebimento das propostas em janeiro de 2010 e a contratação do consórcio vencedor em junho de 2010. Talvez isto ainda não seja suficiente para os críticos de plantão, mas o que vemos é o engajamento das partes envolvidas no projeto para que o nosso trem-bala seja uma realidade dentro de pouco tempo.

Além de oferecer à população um transporte coletivo com segurança, conforto, rapidez, economia e pontualidade, que se traduz em maior mobilidade, a adoção do TAV vai inserir o Brasil no rol dos países desenvolvidos que privilegiam o transporte sobre trilhos, por conhecerem sua eficiência energética e amigável em relação ao meio ambiente. Para termos uma ideia da eficiência e rapidez do tipo de transporte, o TAV tem resposta energética nove vezes maior a do avião e quatro vezes superior à do carro. Na prática, a viagem entre Rio e São Paulo levará uma hora e 33 minutos no serviço expresso (sem paradas), e uma hora e 4 minutos entre Campinas e São José dos Campos. Além disso, o trem-bala ocupa, em termos de largura da via, um terço da área necessária para a rodovia e pode transportar até 360 mil passageiros por dia.

O Brasil, atual oitava economia do mundo e aspirante à quinta colocação no curto prazo, não poderia deixar para mais tarde esta decisão. Veja o motivo: a extensão atual de linhas de alta velocidade no mundo alcança hoje 10 mil km e há 8,7 mil km em construção e outros 14 mil já planejados.

Outro governo que também estará investindo neste modelo de transporte é o norte-americano, que lançou recentemente as bases para a implantação do trem de alta velocidade em vários corredores do País, principalmente nas duas costas. Serão trechos que variam entre 160 e 960 km, faixa de distância em que se extraem as maiores vantagens econômicas deste modo de transporte. Será também revitalizada a única linha ferroviária de alta velocidade existente, entre Washington e Boston, passando por Nova York. Vale ressaltar a aprovação da população da Califórnia, ao referendo feito pelo governo, para a construção de 1,2 mil km de linha ferroviária para trem de alta velocidade ligando Los Angeles e San Francisco.

No Brasil, a linha do TAV entre Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas terá uma extensão de 511 km, que é similar às extensões iniciais implementadas por Japão, França, Espanha e China. Também já está aprovado no Plano Nacional de Viação um trecho subsequente, que inclui ligações da cidade de São Paulo com Belo Horizonte e Curitiba.

Outro fator importante do nosso TAV é a obrigatoriedade da transferência de tecnologia, por parte da empresa vencedora do leilão, a uma outra que será criada pelo governo, o que possibilitará a absorção e retenção desta tecnologia aqui no País para projetos futuros. Em relação à tecnologia propriamente dita, não há qualquer restrição, já que foi estabelecida a carga por eixo do projeto, o que significa que qualquer uma das duas tecnologias disponíveis - seja a de tração distribuída ou a que utiliza locomotivas para tracionar o trem - poderá ser ofertada.

Como se observa, o transporte sobre trilhos, seja convencional ou de alta velocidade, é uma opção explorada em todos os centros desenvolvidos do mundo. As bases para a concessão de um serviço de transporte ferroviário dos mais modernos existentes no mundo estão lançadas. Trata-se de um projeto de Estado, não de um governo. Com isso todos sairão ganhando.

Vicente Abate é diretor do comitê Ferroviário do Congresso SAE BRASIL 2009

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