segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Aprendizado de um brasileiro no comando de uma equipe internacional

José Carlos Eiras, ex-CIO da GM na Europa conta porque os executivos de TI devem decidir se querem virar heróis ou preferem sucumbir à crise

José Carlos Eiras, CIO
Publicada em 23 de janeiro de 2009


Sempre me senti sortudo por ter nascido no Brasil, mas, na verdade, só percebi o verdadeiro valor da minha nacionalidade quando me tornei o CIO da General Motors na Europa. Como todos podem imaginar, naquele período, boa parte da minha energia era consumida para gerenciar as diferenças multinacionais e culturais da equipe e, sendo brasileiro, eu era considerado estrangeiro pelo time inteiro.
Além de me deixar em uma posição neutra quando qualquer tipo de disputa acontecia na companhia, essa característica também me proporcionou uma nova perspectiva sobre as habilidades necessárias para dirigir a área de TI de uma corporação de atuação global.
Conforme a economia mundial se desenvolve, os executivos de tecnologia encaram dilemas de grandes proporções e, nesse momento, precisam decidir entre se tornarem heróis ou sucumbirem aos desafios. Muitos CIOs acabam se vendo em labirintos cuja saída parece não existir: por um lado, são obrigados a reduzir custos; por outro, têm de produzir resultados tangíveis para o negócio.
Como sobrevivente de quatro recessões econômicas, posso garantir que crises criam muito stress às companhias; mas também são uma fonte de oportunidades para que elas desenvolvam a infraestrutura necessária para voltarem a crescer.
Assim, os profissionais da área têm de escolher se preferem esperar timidamente por seus destinos ou agir como heróis. Para aqueles que esperarão os acontecimentos, presto minhas condolências, e para os que agirão heroicamente, ofereço dois conselhos:
• Corte as despesas o máximo que conseguir, mas lembre-se de que são necessários fundos para manter seus sistemas e estrutura atualizados, pois só assim o negócio terá possibilidades de crescer e sobreviver aos tempos difíceis;
• Não importa o que se faça, é fundamental continuar com o budget para manter sua equipe ou, pelo menos, os melhores colaboradores. Eles serão a chave para o sucesso durante a crise.
Além disso, para aqueles executivos genuinamente apaixonados, seguem mais algumas sugestões:
• Construa um grande time: como responsável por uma área de atuação de grandes empresas, uma das tarefas mais importantes é atrair, promover, e gerenciar talentos. Tal responsabilidade se estende a fornecedores, consultores, parceiros de negócio. Uma gama forte de talentos é a melhor resposta a qualquer período de instabilidade.
• Estabeleça metas para a área de TI: não espere que alguém o diga o que fazer. Durante uma crise é até mais fácil estabelecer e cumprir metas reais de negócios do que nos períodos de crescimento. Como todos os segmentos estão em fase de cortes de custos, sua primeira função pode ser eliminar sistemas legados e soluções redundantes – desde que não afetem a política de risco da empresa.
• Mantenha-se próximo de seus fornecedores: esteja certo de que seus fornecedores estão cumprindo os contratos e lembre-se: eles são parte de sua equipe. Se não estiverem prestando serviços satisfatórios, tente renegociar prazos e preços. Em tempos de crise, muitas vezes é possível conseguir dois projetos pelo custo de um.
• Esteja certo de que todos sabem que você é o responsável pela área: pode até parecer estranho, mas o momento atual é perfeito para você assuma mais responsabilidades. Não tenha medo de encarar desafios e tomar decisões. Sejamos sinceros: se algo der errado, a culpa será sua; então, faça com que o mérito também seja no case de tudo dar certo. Se você é o CIO, aja como líder e mostre seu orgulho. Tudo o que menos se precisa agora é de um consultor ou expert para dar ordens e palpites de como você deve gerenciar sua área.
• Aja como um CEO: quando você age como o CEO da TI, ganha respeito e admiração na companhia e isso se transforma em mais colaboração – de todos os segmentos empresariais – para que os processos de sua área fluam de forma harmoniosa. Além disso, agir como CEO torna mais curto o caminho até os outros executivos C-level – assim suas solicitações e aprovações acontecerão mais rapidamente.
E, por último, mas não menos importante: pense de forma sustentável. A TI verde é mais que uma tendência, e sim uma estratégia muito válida aos negócios.
Quando comecei minha carreira, em 1970, nunca imaginei que a área de TI seria tão crucial para a economia global. Atualmente, a tecnologia é mais importante do que nunca e os CIOs devem estar preparados para encarar desafios que podem mudar o rumo financeiro de companhias e até países.
José Carlos Eiras foi CIO da DHL Express e, antes disso, ocupou o mesmo posto na unidade européia da General Motors, na General Foods e na Philip Morris.

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