terça-feira, 16 de novembro de 2010

Na Rhodia, a TI é global. Como comandar ignorando distâncias geográficas?

CIO global da Rhodia, Xavier Rambaud, conta como, nos últimos anos, tem promovido uma verdadeira revolução no departamento de Tecnologia da Informação da companhia.

Tatiana Americano
Publicada em 15 de novembro de 2010 às 07h00

O francês Xavier Rambaud conduziu uma ruptura na TI da Rhodia. Há cerca de sete anos, o executivo iniciou um projeto para integrar todas as operações de tecnologia da informação do grupo – que faturou 4,03 bilhões de euros em 2009 e emprega cerca de 13,5 mil funcionários – em uma única estrutura global.

Rambaud, que hoje viaja uma média de oito meses ao ano, detalha o caminho dessa transformação e os segredos para comandar uma equipe de aproximadamente 400 profissionais, espalhados ao redor de todo o mundo.

CIO – Como surgiu a ideia de criar uma estrutura global de TI?


Xavier Rambaud – O grupo [até 2003] tinha uma estrutura de TI bastante heterogênea, com 17 unidades ao redor do mundo. Éramos um mosaico, com sistemas e estruturas diferentes por país e por negócio. Com isso, não tínhamos como entender os nossos custos, nem aproveitar melhor os contratos com os fornecedores.



A partir daí, decidimos padronizar toda a estrutura global, com a escolha de um mesmo fornecedor de computadores, de telefonia móvel, de serviços de internet e etc.

Padronizamos também os processos de negócio. Para isso analisamos o que era feito em cada localidade, com o intuito de definir melhores práticas, que poderia ser replicadas em todo mundo.

Em paralelo, criamos um departamento global de TI. Passei então a ser responsável pela arquitetura, pelos profissionais e por gerenciar prioridades e orçamentos [de TI] de toda a Rhodia. Passamos a funcionar como uma área única para todo o mundo.

CIO – Qual foi seu maior desafio nesse processo de unificação de toda a estrutura de TI?


Rambaud – Entender as diferentes culturas, gerenciar o processo de mudança e aprender a trabalhar com uma gestão remota. Hoje, dentro da TI temos pessoas de um mesmo projeto localizadas em cinco ou seis diferentes países. Eu considero que até existem desafios tecnológicos, mas gerenciar pessoas e mudanças tem sido muito mais difícil e demorado.

CIO – Como a condução do processo para criar uma estrutura global de TI mudou sua postura como CIO?


Rambaud –Existem duas coisas super importantes na minha agenda como CIO. A primeira é entender a fundo o negócio, do ponto de vista de estratégia e prioridades. Quando você é um CIO global muitas vezes está sozinho para fazer algumas escolhas e o resto da empresa precisa confiar muito nas suas decisões. Também tenho de me policiar para evitar jargões do mercado de TI, que são encarados como um ponto negativo.

A segunda questão é ter uma excelente rede de relacionamento. Preciso me relacionar com outros CIOs, em quem eu confie para compartilhar dificuldades, experiências, conceitos e como ser mais eficiente. Essa troca de informações é fundamental.

CIO – A padronização da tecnologia e dos processos não acaba restringindo as possibilidades regionais?


Rambaud – Em média, 80% das iniciativas são padronizadas, mas outros 20% atendem a demandas específicas. Para isso, nomeamos, em julho deste ano, diretores de TI específicos para as 11 GBUs (unidades de negócio). O trabalho deles é reconhecer as diferenças de cada área e, a partir daí, oferecer as customizações necessárias. Isso custa um pouco mais, mas traz resultados melhores para os negócios.

CIO – De que forma a recente crise internacional afetou sua área?


Rambaud – Tivemos de congelar algumas iniciativas, por conta de uma redução no caixa da empresa. No auge dos problemas, todos os projetos que não tinham um retorno em até 12 meses foram cortados. Quando falamos em TI, esse prazo é muito pequeno.

O risco da pandemia de gripe suína, por outro lado, foi uma oportunidade de negócios para a Rhodia. Assim, pudemos investir em algumas ações, como melhorar o acesso remoto dos profissionais e em ferramentas de comunicação a distância.

CIO – Os problemas econômicos foram uma oportunidade para inovar?


Rambaud – Com os grandes projetos congelados, pudemos nos dedicar a ações para melhorar algumas ferramentas para gestão dos negócios.

Durante a crise, nosso foco foi fazer coisas que trouxessem um retorno rápido para a empresa. Agora, com a economia melhorando, a empresa mais rentável, nós ajustamos nosso foco para suportar o crescimento do negócio, com iniciativas estratégicas.

CIO – Quais os principais projetos de TI da Rhodia para 2011?


Rambaud – Uma das questões é garantir a integração da Rhodia com todo o ecossistema com o qual ela se relaciona. Do ponto de vista interno, precisamos suportar o crescimento da empresa, as ações de pesquisa e desenvolvimento e de marketing.

Também preciso resolver algumas questões de equipe. Ao mesmo tempo em que o crescimento da empresa traz oportunidades para os profissionais de TI, aumenta alguns gaps. No Brasil temos muita sorte, porque o time é excelente. Mas em alguns países como a China, por exemplo, precisamos aumentar o time para suportar o aumento da demanda.

CIO – Isso deve representar um orçamento maior de sua área para 2011?


Rambaud – Ainda não fizemos o planejamento para o próximo ano, devemos começar esse processo em outubro. Mas eu penso que, provavelmente, o orçamento terá de crescer.

Durante a crise, congelamos muitos projetos e agora teremos de retomálos. Isso vai exigir mais dinheiro para investir em inovação e ações que suportem o crescimento.